Convido a todos para a leitura do livro TCHAU da autora Lygia Bojunga. Obra de contos.
Compartilho um conto dela aqui.
O buquê
A campainha tocou. Rebeca correu pra abrir a porta. Até se admirou de ver um buquê tão bonito.
– Mãe! – ela gritou – chegou flor pra você. – Fechou a porta.
A Mãe veio correndo da cozinha e pegou o buquê. Tinha um envelope preso no papel: a Mãe tirou depressa um cartão lá de dentro; leu. O telefone tocou; a Mãe largou tudo e foi atender.
Rebeca quis ler o cartão. Mas estava escrito em língua estrangeira, era francês? Olhou pra assinatura: Niko. Lembrou de uma voz estrangeira que andava telefonando, chamando a Mãe. Botou devagarinho o cartão pra perto do telefone, sem tirar o olho da Mãe. Franziu a testa: a Mãe estava parecendo nervosa, encabulada; mas muito mais bonita de repente!
Rebeca foi se esquecendo de prestar atenção na língua estrangeira que a Mãe estava falando pra só ficar assim: olhando: curtindo a Mãe.
A conversa no telefone acabou.
A Mãe voltou logo pra junto das flores.
– Coisa linda esse buquê, não é Rebeca?
– É.
– Com esse calor é melhor botar ele logo dentro d’água. – Foi indo pra cozinha. – Você não quer me ajudar a arrumar o vaso?
Rebeca ficou parada.
A Mãe olhou pra ela; parou também: assim: meio abraçada com o buquê.
E durante um tempo as duas ficaram se olhando.
Rebeca então foi indo distraída pra cozinha.
A Mãe (distraída também) pegou um vaso, encheu de água.
E as duas arrumaram as flores devagar, sem falar nada; sem nem levantar o olho do vaso.
(BOJUNGA, Lygia. O buquê. In: BOJUNGA, Lygia. Tchau. 17. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2003).
Post escrito por Evandro Jair Duarte.